Era dia de clássico: União Jovem e Palmerinhas. Eu tinha 9 anos quando saí da escola e fui pra casa correndo pegar minha chuteira e meião para, mais uma vez, defender o meu primeiro time. O Palmerinhas era nosso grande rival e o jogo prometia ser muito tenso.
No interior do Ceará, crianças de nove anos não aceitam perder com tanta facilidade, e, após uma vitória sensacional que teve até gol de bicicleta pra gente (infelizmente não lembro o placar), começaram as provocações da parte deles e nós revidamos.
Começou com palavras mas terminou com pedras. Isso mesmo: pedras. Um time se afastou do outro e começamos a jogar pedras uns nos outros. Já comentei que a gente faz muita besteira na vida não é? Ficar nessa briga, foi mais uma das besteiras que fiz.
Eu consegui desviar muitas pedras e felizmente não acertei ninguém. No

apenas lamentando a tal dorzinha, mas... quando tirei a mão da cabeça e vi que ela estava vermelha de sangue, comecei a berrar. Era um choro seguido de "vou morrer" de uma maneira frenética. Disparei pra casa.
Quando cheguei, meu pai veio ver e me carregou para o banheiro mandando que eu tirasse a roupa. Eu tentava fechar os olhos pra não ver sangue. Tirei a
camisa, depois o calção e por fim a cueca.
- Paaaai, eu vou morrer mesmo, tá saindo sangue até pelo c**... buáááááááááááááá!!!
Ele, com uma lâmina na mão e chuveiro aberto, pronto pra fazer a 'cirurgia', me respondeu sorrindo:
- É o sangue da cabeça que escorreu menino...
Daí, ele raspou ao redor do corte, lavou tudo e colocou um curativo. Eu estive sempre de olhos fechados, mas percebi que meu pai não parou de rir enquanto me medicava.