Nunca fui bom de briga. Devo ter brigado umas três vezes, no máximo, quando criança. Nunca concordei que a força física prevalece sobre o diálogo.
Até porque se eu não pensasse assim, não me restaria nenhuma alternativa para me sair bem dos conflitos que a vida nos impõe.
Na sétima série, eu fazia parte de uma turma. Era uma turma bem bagunceira, mas que não pregava ou impunha nada de maldoso contra as pessoas. No entanto, colocávamos apelidos meio constrangedores nos coleguinhas que acabavam por irritá-los muito.
Certa vez minha turma encheu a cabeça de um colega que tinha o apelido de "Patilha" por causa do tênis que ele usava pra ir à escola, que parecia uma sapatilha de balé. Então ele, enfurecido, escolheu o mais fraquinho da turma para pegar na saída. Ou seja... sobrou pra mim.
Ele me marcou durante todo o restante da aula. Pensei em pedir pra sair com a professora e outras coisas, mas nada parecia ser uma boa idéia. E a minha turma? Só me desejava boa sorte e que, depois do primeiro murro, eles entrariam.
Aí só me restou uma chance. Eu corria muito quando criança. Corria muito mesmo.
Na saída da escola eu já me preparava pra correr quando fui cercado por Patilha. Ele já estava sem camisa, tipo Bruce Lee. Ela havia jogado a mochila no chão, e isso já era sinal que o negócio estava sério. Os colegas fizeram uma rodinha e ali estávamos. Eu não tinha a mínima idéia do que ia fazer. Foi quando apareceu uma professora santa mandando o Patilha parar com aquilo. Ela o fez vestir a camisa, pegar suas coisas e sair.
Mas antes eu falei pra ele:
- Cara, pode sair dizendo pra todo mundo que você me bateu. Que me derrubou e que ganhou de mim. Você é bem mais forte, nem precisa a gente brigar pra eu saber que você vai ganhar. Eu podia correr mas queria que você soubesse disso.
- Cara, pode sair dizendo pra todo mundo que você me bateu. Que me derrubou e que ganhou de mim. Você é bem mais forte, nem precisa a gente brigar pra eu saber que você vai ganhar. Eu podia correr mas queria que você soubesse disso.
Ele saiu bem zangado, mas no outro dia já estava tudo normal de novo. Evitamos nos ferir e o caso foi resolvido. E nunca mais o chamei de Patilha... na frente dele.