19 de agosto de 2010

Eu vejo você!

A filha pede para ir brincar no parquinho e chama você pra ir junto.
Você não tem como ir porque está jantando e conversando com seus amigos.

- Vá, filha. Pode ir que daqui eu lhe vejo.

E a filha vai, com toda certeza de que está segura.

O que usamos no Brasil como "bom dia, boa tarde ou boa noite", os africanos usam "Sawu bona" que quer dizer "eu vejo você". Mais do que um cumprimento ou desejo, "sawu bona" demonstra cuidado, zelo, carinho, consideração e atenção.

Vou tentar incluir isso na minha rotina, porque quando desejo um "bom dia", o que há no meu coração é realmente um "sawu bona".

Sawu bona! :)

5 de agosto de 2010

Minha reforma ortográfica

Quando começaram a falar em reforma ortográfica, eu pensei que um dos meus sonhos de colégio se realizaria. Na 7ª série eu bolei uma mudança na Língua Portuguesa Nossa de Cada Dia que alterava uma série de coisas. Minha motivação maior, veio do fato de que eu morava no interior e percebia que muitas pessoas erravam a escrita das palavras, mas que no fundo aqueles erros tinham certa lógica.

Por exemplo, quando alguém escrevia “vosê”, eu entendia a linha de raciocínio da pessoa. Ora, o som de "vosê" ficava o mesmo e o “S” até me parecia mais adequado do que o “C” na palavra “você”. Mas regras são regras e tinham que ser seguidas.

Mas aí é que está: as regras da Língua Portuguesa têm muitas exceções. E como diria o filósofo Derek Reard*, se uma regra tem muitas exceções, a regra não foi bem elaborada e todos vão se achar no direito de criar novas exceções.

Veja algumas das mudanças que propus, lembrando que sempre priorizei a fonética:

  • O “C” antes de “e” e “i” teria som de “ke” e “ki”, como com as outras vogais. Portanto, “você” teria realmente que ser “vosê”.
  • Não existiria mais a letra “Q”, que por sinal fica inútil, se observada a regra acima. “Quem” ficaria “cem” e o “100” ficaria “sem”.
  • O “G” antes de “e” e “i” teria som de “gue” e “gui”, como com as outras vogais. Logo, “gueto” seria “geto”, e “gente” seria “jente".
  • Antes do “e” e “i”, o “J” faria as funções do “G” e o “S” faria as funções do “C”, sem problemas.
  • O “e” com som de “i”, seria “i” mesmo. Como em “Si vosê gostar di mim, eu digo ce lhi amo!”
  • O “Ch” seria abolido e tudo seria “X”.
  • K, Y e W ficariam para as outras línguas mesmo. Letras inúteis e desnecessárias.
  • O "S" só funcionaria nas palavras onde tivesse som de "sssssss" de abrir cerveja, como em "saco" ou "serpente". Para o "S" com som de "zzzzzz" de zumbido, seria usado o bom e velho "Z". E o "ss", morreria.
  • As mudanças fonéticas seriam apenas duas: Eliminar o "h" invisível das pronúncias do "T" e do "D", onde "morte" não seria pronunciada como "morthe", e o "-te" seria o mesmo de "Tereza".
E outras mais... Fica esquisito, né? Mas se tivesse começado assim, eu tenho certeza que o aprendizado das crianças seria mais rápido, o índice de analfabetismo seria bem menor que o de hoje, e mais pessoas teriam prazer em escrever, sem o receio de errar. Além disso, menos pessoas sentiriam raiva e prazer ao corrigir alguém, por erros aparentemente idiotas que, no fundo, fazem sentido.

*Eu invento nomes de filósofos pra dar aquele TCHAN nas minhas frases.

3 de agosto de 2010

Atirei o Pau no Gato

Atirei o pau no gato-to
Mas o gato-to
Não morreu-eu-eu
Dona Chica-ca
Admirou-se-se
Do berro, do berro, do berro que o gato deu:
Miau!

Se você nasceu até 1985 e conseguiu ler essa poesia infantil cantarolando uma das músicas mais conhecidas da minha infância, fico feliz por você. Eu tenho saudade dessa época. Saudade do tempo em que “Atirei o pau no gato” era apenas uma música inocente e divertida, que embalava rodas de crianças sem nenhuma maldade. Conversando com a diretora da escola da minha filha, ela me informou que essa música foi abolida de todas as escolas que ela conhece, porque incentiva maus tratos aos animais.

Até criaram outra versão:

Não atire o pau no gato-to
Porque isso-so
Não se faz-faz-faz
O bichinho-o
É nosso amigo-go
Não devemos maltratar os animais
Miau!

Esse é o tipo de caso que reforça o ditado “a maldade está nos olhos de quem vê” e onde o completo com um “e não na boca de quem canta”. Que eu me lembre, jamais senti vontade de atirar um pau num gato por causa dessa música. Na verdade, só vim entender que “do berrô, do berrô...” significava o berro do gato, depois de muito tempo.

A letra da nova versão é perfeita, correta e do bem. Mas... veja que ironia: garanto que quem compôs, não se lembra que para uma criança e até pra nós mesmos, o “não faça!” significa “faça escondido” e o “faça!” significa “vou ver se vale a pena antes de fazer”.

Antigamente não existiam traumas infantis, apologias ao mal com músicas de roda e de ninar, preconceito em qualquer frase, excesso de cuidado... Atualmente tudo é traumático, tudo é apologia ao mal, tudo induz ao erro, tudo é errado, todas as músicas influenciam mal, palmada é crime... Que tempo foi melhor? Algum adulto traumatizado condena os seus pais porque disseram que o homem do saco viria buscar se ele não tomasse banho? Será que a minha infância foi tão complicada e eu nem percebi?

Vou ensinar a minha filha a cantar “Atirei o pau no gato” da maneira que aprendi, e vou ensinar a não maltratar os animais, assim como também aprendi.