29 de dezembro de 2011

Uma praga chamada "Apego"

Hoje pela manhã escrevi algo no Facebook sobre apego. Não recomendo a ninguém.
Você pode transformar seus relacionamentos se deixar o apego de lado. Falo por experiência própria.
O apego cega, apaga sua espontaneidade e não melhora sua personalidade.


Me conta como ficou depois, tá?
Link do post no Facebook:
http://www.facebook.com/anonimofamoso/posts/10150484111284371

22 de dezembro de 2011

Valores

Queria a sua ajuda para entender melhor uma coisa.

Estava conversando com uma moça hoje sobre a violência com os animais, repercutindo ainda o que aconteceu com aquela enfermeira que matou o indefeso cachorrinho. Tudo ia bem, até que ela falou o seguinte:

ELA: (...) seria o mesmo que espancar e bater numa criança.

EU: Como assim? Seria a mesma coisa, uma pessoa espancar um cachorro e espancar uma criança?

ELA: Claro que sim.

EU: Peraí, quer dizer que seu disser pra você que infelizmente um cachorrinho foi atropelado, ou disser que infelizmente uma criança de 7 anos foi atropelada, o seu sentimento será igual com relação às duas notícias?

ELA: Isso mesmo. São duas vidas, né?

EU: São, mas...

ELA: Então.

Fiquei em silêncio, pois não conseguia falar mais nada. Mudei de assunto, mas aquilo ficou na minha cabeça.


Não quero estender a discussão, nem manifestar minha opinião, já que ela ainda não está formada. Estou confuso. Mas gostaria muito de lhe perguntar uma coisa: Mais alguém pensa assim, igual à moça?

22 de novembro de 2011

Os filhos que não tive


- Amor, minha menstruação não veio.
- Não fala isso, pelo amor de Deus!

E essa é aquela fase da vida de um homem, em que uma ligação com um “amor, veio” traz a maior sensação de alívio que se pode ter. Na adolescência, o ímpeto natural de se entregar à paixão e ao momento, não vem junto com o discernimento necessário pra comprar uma camisinha. Às vezes, não dá tempo e a gente acha que vale a pena arriscar só aquela vez.


Aí você fica contando com a sorte. A preocupação começa imediatamente após a relação sexual. Os dias seguintes são um grande tormento, em que se tenta esquecer que você pode ser pai. Por um momento, até fazer planos, como vai ser o nome, ensaiar o que vou dizer aos meus pais, e por aí vai.

- Amor, veio.

E tudo se transforma! Você quer gastar toda a migalha que tem na carteira e comemorar. Daí promete que nunca mais fará sexo sem camisinha. Promessa essa, que é quebrada logo que a menstruação da namoradinha acaba.

Então decidem que ela deve tomar um anticoncepcional. Tal pílula engorda, a injeção de hormônio faz nascer bigode e a gente passa a conviver com esses problemas, até que, após vários sustos filhos que não tivemos, a mulher decide que é melhor engordar um pouquinho do que engravidar fora de hora.

- Acho que chegou a hora de termos nossa filha.

Suspende a pílula e haja amor! Então o “amor, veio” passa a ser uma decepção atrás da outra. Comigo durou cerca de 5 anos. Já dava pra achar que havia algum problema e que deveriamos fazer um tratamento. Quando de repente, eu recebo uma camisa com a foto da ultrassonografia da minha primeira bebê.

Depois da primeira, a promessa de que não teria outro filho tão cedo. Promessa quebrada logo após o término da primeira menstruação. A segunda filha viria alguns meses depois.

Alguma medida drástica precisava ser tomada! Parar de fazer sexo, usar camisinha sempre, usar as pílulas que engordam... nada parecia ser uma boa ideia. Então o médico sugeriu o DIU.

A alegria está de volta à nossa casa! Finalmente o sexo sem medo, sem barreira, sem culpa e a vida conjugal toma um novo rumo. Três meses depois, do hospital, após um exame ginecológico, ela liga dizendo “amor, o DIU está completamente fora do lugar”.

Por 5 segundos eu me acho “o cara”, afinal deslocar um DIU não deve ser pra qualquer um. Logo depois, vem à tona aquela preocupação da adolescência: “será que ela está grávida?” Novos planos, quantas latas de leite, mais fraldas, e o futuro, a escola, e como serão as três nas cadeirinhas do carro...

Até que ela liga logo depois “amor, o médico disse que não estou grávida”.

Foi mais um dos milhares de filhos que tive, que apesar não terem se materializado, tiveram um pouquinho da minha atenção como pai.

1 de novembro de 2011

Vocação

Eu já falei aqui que já fui cantor de igreja. Vasculhando umas fitas de vídeo da época do ronca, achei umas imagens daqueles momentos.

O melhor de tudo em rever essas imagens, é saber que felizmente tomei a decisão certa em procurar outra vocação na vida.

A minha voz começa no 1:05. :)


12 de outubro de 2011

Minha mãe, profeta?

Minha mãe mandou essa foto para os meus avós. Ela tinha o costume de escrever sempre atrás das fotos, até ela aprender que molhando a foto, pode-se escrever na frente também. :)

Veja algo que ela já sabia há muito tempo:


18 de setembro de 2011

Valor à vida

Depois de uma semana de muito trabalho em outra cidade, acordando muito cedo e dormindo muito tarde, finalmente chegou a hora de voltar pra casa e rever minha família. Era início de noite e eu estava tão cansado que pensei na possibilidade de dormir e ir embora apenas na manhã seguinte, mas a vontade de ver minha esposa e minhas filhas foi maior. Acabei viajando.

No começo do caminho, percebi que não ia ser fácil. Minhas pálpebras pareciam ter uma corda com uma pedra de 5kg pendurada. O sono era enorme. Liguei o rádio para ouvir o jogo do Ceará, que logo começou a perder e, em vez de me animar, começou a dar mais sono. Pensei em parar o carro, mas eu achava que meus limites suportariam até minha casa.

Então comecei a pensar na semana de trabalho, nas situações adversas, nas engraçadas, nas pessoas, nos momentos mais especiais, no que poderia ter sido diferente, quando de repente...


... Abri meus olhos e vi que estava no acostamento da mão contrária, quase saindo da pista e descendo rodagem abaixo. Numa reação de susto, voltei à minha mão e retomei meu caminho. Eu havia dormido.

O susto me acordou e consegui me conduzir até a próxima cidade, onde eu parei e descansei por alguns minutos. Logo depois, segui meu caminho em velocidade mais baixa e com música no volume mais alto possível.

A vida já me deu outras chances parecidas como essa de ontem. Fala-se muito que "só se dá valor a algo, depois que se perde", mas com a vida isso não funciona. Ninguém morre pra poder aprender a valorizar a vida. Vou pensar nisso nas próximas vezes que achar que conheço meus limites.

4 de agosto de 2011

Alergia

Não usei cueca até os 13 anos. Eu dizia à minha mãe que se tratava de uma alergia. Que bastava usar cueca e ficava com coceira, suor, etc. Até que num dia de aula de educação física, aconteceu o milagre da cura.
A aula de educação física dos meninos era separada da aula das meninas. Mas, claro, a das meninas era primeiro. O portão de saída das meninas era o mesmo da entrada dos meninos, e essa entrada/saída sempre acontecia ao mesmo tempo.

Em um dia desses, meus amigos resolveram aproveitar esse momento de transição e tirar meu calção na frente de todos.

E não é que a alergia passou de lá pra cá?

3 de julho de 2011

Twitters que marcam

O correto seria "pessoas que marcam", porque é por trás de uma timeline que estão aquelas pessoas que, através do Twitter, nos marcam e nos fazem lembrar delas em algumas situações da vida fora do Twitter. Por exemplo:

Quando escuto "Hora Certa", eu lembro do @tiodino.

Quando alguém fala "Vocês têm que se entregar mais" ou vejo coxinha, eu lembro da @DeniseRossi.

Quando vejo algum ótimo trocadilho, sempre acho que a pessoa leu e kibou o @oswaldobian.

Quando alguém fala na novela O Clone ou fala em sushi, lembro do @victoroliveira.

Quando vejo qualquer coisa relacionada ao Atlético-MG e paçoquinhas, lembro da @ursulafar.

Quando vejo alguma atitude machista, lembro do sarcasmo do @edutestosterona.

Quando alguém reclama que está sozinho, sem namorada, lembro do @JorgeBarbosa.

Quando vejo o Chaves, lembro do @porraduduh.

Quando escuto a palavra "nona", mesmo se referindo ao número ordinal, lembro da @nairbello.

Quando o padre diz "oremos", lembro da @NossaSenhorita.

Quando alguém escreve tudo em caps lock, lembro do @TIOCAPSLOCK.

Quando escuto as palavras "mágoa" e "rancor", lembro do @coediego.

Quando vejo um iPad, jogo de tênis ou algo sobre Recife, lembro do @bqeg.

E por aí, vai. Não gosto de recomendar Twitters, porque sei que aqueles que podem ser muito bons pra mim, podem ser péssimos pra você. Mas se você se identifica comigo, é provável que você goste de todos esses aí. :)

2 de julho de 2011

Sangue de barata

A vida lhe convida a entrar em confusão. Nunca vai faltar a você uma oportunidade de se meter em briga, discutir com alguém ou se revoltar com alguma atitude que outras pessoas tomem e, com isso, acabe entrando no mesmo nível e se prejudicando apenas porque reagiu mal.

Todos reagem de alguma forma quando são provocados. E é essa reação que faz a diferença entre conviver bem ou viver com dores de cabeça, cheio de confusões.Nunca vi alguém tentar bater de frente e não sair machucado. Há situações em que ter um pouquinho de sangue de barata não faz mal, muito pelo contrário.
Já fui do tipo que reagia mal até quando alguém falava de uma música que eu não gostava. "Essa música é horrível, não sei como alguém pode gostar disso", falava. Eu esquecia de duas coisinhas básicas: 1. Cada um é que decide o que acha bom ou ruim. 2. Eu já tenho problemas demais pra resolver na minha vida, pra ficar me preocupando com o que as pessoas acham ou não.

Sei de enormes tragédias que começaram com discussões banais, bem banais mesmo. Tudo por causa de uma reação descontrolada, que poderia ter sido diferente. É difícil não reagir com revolta quando algum vagabundo vai assaltar aquele celular que você ralou tanto para conseguir, mas isso pode fazer com que se arrependa pelo resto da vida, se ainda continuar com a vida, claro.

Certa vez, dei uma fechada em uma mulher no trânsito. Obviamente foi sem querer, e esperei o sinal vermelho seguinte para parar do lado dela e pedir desculpas. Quando baixei meu vidro e comecei a falar "Descul....", fui interrompido por um "SEU IRRESPONSÁVEL, FILHO DA P***, COMPROU A CARTEIRA, SEU IRRESPONSÁVEL" e como se não fosse suficiente, ainda levantou o dedo médio e girou no ar (ui!) apontando pra mim.

É claro que a vida vai me incentivar a descer do meu carro com o extintor na mão e quebrar o carro dela inteiro, além de quebrar a cara dela também. Mas... Fiz um coraçãozinho com as mãos, encostei no meu peito e mandei beijos pra ela, continuando o pedido de desculpas. Ela fechou os vidros, foi embora e nunca mais nos vimos. Me pareceu um bom final.

Minha esposa estava no banco de trás com as crianças e riu muito de tudo isso. Até hoje rimos. Mas tudo poderia ter sido diferente se eu seguisse os meus instintos naturais e não parasse por um segundo pra pensar nas inúmeras más consequências que a reação natural poderia ter me causado.

Nunca vi algo bater de frente e não sair machucado. Funciona assim no trânsito e nos relacionamentos. Discorde, concorde, mas não bata de frente. Lembre das coisinhas básicas. Coraçãozinho pra você.

29 de maio de 2011

Testemunha de Jeová

Tenho uma aversão terrível a esta religião. Mas calma... ter aversão não significa não ter respeito. Aliás, tenho amigos e colegas de trabalho que fazem parte e os respeito como quaisquer outras pessoas, já que aprendi com minha vida que ninguém vale mais ou significa mais do que outra pessoa e que todos somos iguais.

Mas o que aconteceu pra que eu sentisse isso? Um fato tão lamentável quanto inesquecível.

Eu sempre recebia muito bem aos TJ na minha casa. E olha que até naquele domingo mais preguiçoso, eu me levantava, interrompia café da manhã e até parava transa pra atendê-los. E, acredite, até a revistinha eu comprava nem que fosse pra minhas filhas rasgarem. Até que um belo dia eu cheguei do trabalho cedo e fui na quadra de esportes vizinha à minha casa, pedir a quem estivesse lá que deixasse eu jogar junto (e perder algumas calorias, etc.).

Então chego lá, já calçado, com toda humildade e respeito:

- Boa noite, tudo bem? Será que eu posso brincar aqui com vocês?

Eles se olham desconfiados e pedem pra eu falar com um senhor barrigudo que estava do outro lado da quadra. Como um cachorrinho, eu vou lá:

- Olá, como vai? Será que eu poderia jogar com vocês?

- Hum... é que aqui só tem testemunhas de Jeová.

- Ok, será que eu posso brincar com vocês hoje?

- Nós somos testemunhas de Jeová, você não entendeu?

- Não...

- A gente veio só brincar, não somos competitivos, não falamos palavrões no jogo.

- Eu tenho exatamente essas características.

- Não dá, a gente nem jogar sabe...

Então percebi que eles não queriam se misturar comigo. Saí p&%$ de raiva e prometi que ia descontar isso em todos os TJ que ousassem ir na minha casa.

Daí, sempre que algum vem na minha casa em domingos pela manhã (como hoje), eu conto pra eles essa mesma historinha e faço um sermão dizendo que todos devem se respeitar apesar de religião. Acredite se quiser: nenhum pediu desculpas e alguns ainda tentam se justificar. Teve um que soltou a pérola "no mundo de hoje, ninguém sabe se a pessoa pode andar armada né".

Obviamente, não generalizei todos os TJ naquela pessoa ridícula que foi o barrigudo. Como disse antes, até tenho amigos TJ que gosto muito. Mas isso eu não vou mais esquecer, nem que eles fizessem um amistoso internacional onde eu fosse a principal estrela do dia.

19 de maio de 2011

Ratinho

Estava zapeando entre os canais da TV no intervalo da novela e me deparei com o Ratinho elogiando o Alexandre Frota pela entrevista que ele havia dado à Gabi Gabriela na noite anterior. Repare no que ele falou:

- Parabéns por sua entrevista ontem, Frota. Foi muito boa.

- Obrigado, Ratinho.

- Se a pessoa é sincera, a entrevista é boa. Se não tem nhenhenhém, a entrevista fica perfeita. Pra quem é sincero, tudo fica mais fácil.

Aí ele continuou:

- As pessoas dizem "Ratinho, como você é tão bom negociador..." Bom negociador, nada! Eu apenas sou sincero, entendo do que falo, falo a verdade e não quero enganar ninguém.

Aí ele finaliza:

- Às vezes o cara tenta mentir e se lasca... Porque mentir dá muito mais trabalho. O cara mente, daí depois ele tem que mentir de novo, e de novo, e acaba se lascando.

O Ratinho (pois é, o Ratinho), numa fala de menos de 2 minutos, resumiu uma apostila inteira sobre negociação e ética.

7 de maio de 2011

Cinto no Armador

Voltava da escola no auge da minha 7ª série, com energia suficiente para chegar em casa, jogar o fardamento escolar no chão e ir para o campinho jogar bola.

Dribles, passes, gols... E, de repente, naquele dia o jogo foi interrompido pelo meu pai. Ele invadiu o campinho andando lentamente e concentrado no meu olhar. Ao aproximar-se, pegou na minha orelha com força e foi me puxando por ela até chegar em casa.

Todos os meus amigos ficaram paralisados e em silêncio observando aquela cena. A orelha não doía, quando eu pensava na vergonha que estava passando naquele momento.

Até que, em casa, meu pai me leva até o quarto e aponta para a roupa no chão:

- O que é isso? Perguntou meio ofegante.

- Eu junto, pai. Respondi.

- Eu quero saber por que é tão difícil colocar a roupa no cabide. Retrucou.

Eu já comecei a chorar, porque meu pai demorava meses para perder a paciência comigo, mas quando perdia... a pisa era certa e doía muito mais do que todas que minha mãe me dava, que eram diárias.

Percebi que nos seus olhos, não estava apenas a raiva por eu ter deixado uma roupa no chão. Neles estavam a soma de todas as decepções que ele já havia tido comigo (eu não era fácil), principalmente quando ele esperava de mim o melhor em todos os aspectos.

Ele começou a tirar o cinto da cintura e meu desespero só aumentava. Eis que em um momento divino, ele pega o cinto e o pendura em um armador de rede.

Chorando e ainda sem entender, tento olhar em seus olhos e perceber o que estava acontecendo. Será que ele ia usar as mãos mesmo? Será que ele ia pegar algo que me fizesse sentir mais dor? Aí, ele senta na cama, olha pra mim com um olhar sério e concentrado para dizer as palavras mais incríveis que tinha ouvido na minha vida, vindas da boca do meu pai:

- Escute aqui. Eu não gosto de lhe bater. Todas as vezes que lhe bati foi porque você mereceu, mas eu não queria lhe bater. Não queria que você fizesse por onde merecer. Mas você não aprende...

Ele continuou:

- Tá vendo aquele cinto ali? Eu não quero mais tirá-lo dali, você está me entendendo?

- Entendi, pai.

Ele saiu do quarto, eu juntei a roupa e a coloquei no cabide. Olhei para o cinto e jurei que ele ficaria pendurado ali por muito tempo. E ficou. Meu pai nunca mais me bateu depois daquele dia. A possibilidade de decepcionar o meu pai me deixava mais cauteloso do que qualquer ameaça.

Percebi que cada pisa que levei, teve sua interferência na minha vida e que todas foram merecidas. E já era hora de parar de merecer. Pai, você não tem ideia do quanto lhe agradeço a Deus por ter lhe escolhido pra me mostrar isso, e ter escolhido a época certa para que tudo isso acontecesse. Obrigado.

12 de fevereiro de 2011

Minha vó e a chuva

Na minha infância fui, muitas vezes, à beira de um rio que ficava a cerca de 5km da minha casa, com uma "roladeira" pegar água. Ao retornar, passar a água da roladeira para os potes que ficavam nos banheiros, na cozinha e no quintal.
Água não erá fácil. Hoje, a situação melhorou muito, mas ainda há muitas localidades que dependem muito das chuvas. Na verdade, todos nós dependemos muito da chuva, mas há pessoas que dependem mais que as outras por não morarem onde há sistema de abastecimento.


Ainda há quem vá pegar água na beira do rio com roladeiras, baldes, reservatórios... a luta é enorme.

No entanto, quando era eu o 'motorista' da roladeira, não fazia a menor ideia da importância que aquela água tinha. Graças a Deus, nunca passamos sede em casa, sempre havia um riozinho por perto. Mas não é assim pra todas as pessoas.

Não foi assim pra minha vó paterna.

Após um período grave de seca, houve um dia que choveu muito. As ruas estavam alagadas, com muita lama, cheias de poças, barro... era impossível sair de casa e não se sujar. Fui visitar meus avós nesse dia e, ao chegar, comentei alto que "chover era péssimo e só servia para deixar a gente sujo de lama".

Minha vó interrompeu o que estava fazendo e me chamou:

- Olhe aqui: na próxima vez que você disser isso, eu vou bater na sua boca. Você sabia que tinha muita gente implorando por essa chuva? Você já passou sede? Eu devia deixar você um dia inteiro sem beber água pra ver se você aguenta. E agora vem você reclamar de estar sujo com lama? Nunca mais diga isso.

Naquela hora eu não entendi muito bem, mas nunca mais esqueci disso. Nunca mais falei mal de chuva e nem de lama nenhuma. Com o tempo eu fui entendendo o porquê dessa bronca que minha vó me deu, com toda razão. Através do meu trabalho, conheço realidades semelhantes à minha e outras muito piores. Aprendi que uma laminha na calça não é nada, diante de alguém que está com sede, sem água em casa. Concluí inclusive que passar sede é pior do que passar fome.

Em toda chuva que dá e em cada obstáculo que ela parece me proporcionar, eu vejo você, vó, dando-me força e consciência. Saudade.