4 de maio de 2014

Eu a cerveja



Há cerca de 12 anos, eu jogava em um time de bairro e todos os finais de semana tínhamos jogo em alguma comunidade. Éramos de 20 a 25 jogadores, e após cada jogo, era sagrada aquela cervejinha e, claro, uma bela de uma cachaça.

No entanto, eu devo ter nascido com uma doença rara que ataca menos de 1% da população, especialmente a masculina, chamada "Cervejite": uma mutação na língua que a torna intolerante a cerveja e a cachaça. E olha que não foi por falta de incentivo ou oportunidades. O problema é o gosto mesmo.

Eu não ficava tão deslocado da turma porque pedia meu refrigerante e, felizmente não precisava de álcool pra falar e fazer bobagem, como ainda não preciso. Eu nunca entendi por que isso acontece comigo, mas confesso que nunca me fez muita falta.

Exceto numa festa da empresa, para a qual pediram R$ 80 (muito dinheiro na época) de cada para os gastos, incluindo a cerveja. Que droga, pensei, por dar tanto dinheiro e beber apenas refrigerante. Eu tinha que aprender a gostar de cerveja. Mexeu com meu dinheiro, mexeu com coisa séria. Aí pedi alguns conselhos a amigos cervejeiros, e eles me deram dicas que resolvi seguir. Disseram que no começo é difícil, mas se eu seguisse os passos tudo direitinho, daria certo.

Primeiro eu tinha que comprar uma boa cerveja e deixá-la muito gelada. Recomendaram Bohemia, comprei e deixei no freezer por 1 semana.

Depois, eu tinha que estar morrendo de sede. Então passei um sábado sem beber água, e a tarde fui jogar minha bola em campo de terra. Foi difícil ver as senhoras vendendo picolés e não comprar nenhum, mas resisti. Voltando pra casa de moto, tirei o capacete e vim de boca aberta pra secar qualquer resquício de saliva que ainda tivesse.

Cheguei em casa, abri a geladeira e vi aquela garrafa, toda encoberta de branco, parecia trincada de tão gelada. Saía fumacinha. Abri e coloquei num copo. Ao derramar, parecia grossa, o barulhinho era agradável.



Então coloquei na boca, tomei um gole. Tomei outro gole só pra comprovar.


Aquilo era horrível. Abri uma Sukita de 2 litros e tomei quase metade. O resto da cerveja, joguei na pia, que treco amargo do caramba. Nunca mais.