25 de julho de 2012

Não tenho tempo

Este blog completou 100 mil visitas. Eu sempre pensei em como seria interessante, se meus pais tivessem um blog desde a adolescência deles, para que hoje eu pudesse ler seus pensamentos daquela época. Como isso não foi possível, resolvi escrever esse blog para minhas filhas, e dar a elas essa chance que eu não tive.


Mas praticamente abandonei o blog após o surgimento do Twitter. Meus pensamentos podem ser facilmente expressados em 140 caracteres. E também há um fator muito importante a ser considerado: tempo.

Eu não preciso ter tempo sobrando para ter um Twitter. Ninguém para de pensar, e em 30 segundos é possível passar esse pensamento pelo celular, para todas as pessoas que lhe seguirem. É o tempo de passar o fio dental, de arrumar a postura na cadeira, de pegar um ar, de dar uma espreguiçada, de beber água e, para muitas pessoas, até mesmo de tomar um bom banho.

Já para manter um blog, a dedicação de tempo precisa ser maior. Por exemplo, desde que iniciei esse post, já se foram uns 5 ou 6 minutos. Provavelmente até terminá-lo, levarei uns 10 ou 15, talvez até mais. Como eu preciso dedicar meu tempo a outras coisas que julgo mais importantes, mas não queria perder a oportunidade que tenho de escrever meus pensamentos para minhas filhas, todo mundo e eu ler, acabei preferindo o Twitter, e algum tempo depois, o Facebook e sua linha do tempo.

Às vezes eu pergunto pras pessoas se têm Twitter ou Facebook, e elas respondem “não tenho tempo”. Essa é uma expressão que odeio. Todos têm tempo, as mesmas 24 horas por dia. A diferença é em que cada pessoa escolhe dedicar esse tempo. A pessoa que não está em nenhuma rede social, não pode usar a “falta de tempo” como desculpa. Essa pessoa apenas não quer deixar de dar uma espreguiçada e perder os maravilhosos 30 segundos para postar uma frase, ou simplesmente não vê vantagem nenhuma nisso. É uma questão de escolha que, inclusive, respeito muito.

Antes do Twitter eu já dedicava alguns segundos da minha vida escrevendo na minha agenda com uma caneta – veja que arcaico –, aquilo que eu pensava que devia ser guardado, registrado. Se fosse capaz de causar uma mínima reflexão, seja engraçada ou dramática, eu estava anotando. A diferença é que hoje, eu posso enviar isso pra milhares de pessoas, usando exatamente o mesmo tempo, ou mais rápido, até.

A pessoa diz “você passa muito tempo no Twitter ou Facebook, vá se dedicar à sua família, seu trabalho, brincar com suas filhas” e eu já compreendo imediatamente a limitação da pessoa em entender que o tempo dedicado a isso, não é o mesmo para todas as pessoas. Posso não ser o melhor pai e esposo do mundo, mas dedico o máximo de tempo à minha família. Posso não ser o profissional mais incrível do universo, mas nunca deixei nada por fazer, clientes esperando, ou coisas do tipo. O tempo que eu dedico ao Twitter e ao Facebook é tão pouco, que se somarem todas as frases que posto em um dia, talvez dê menos tempo que a duração da escovação dos meus dentes.

E nem por isso, deixei de escrever. Nem deixarei. Minha filha se lambuza inteira com um pedaço de bolo, por exemplo, e enquanto ela ainda está montada em mim como se fosse seu cavalinho, posso tirar e enviar uma foto da minha filha lambuzada de chocolate e nas minhas costas em 30 segundos. Estou atendendo uma cliente idosa, maravilhosa, e quando finalizo o atendimento dou um abraço – como sempre – e meu crachá machuca o seu peito. Eu peço desculpas, ela diz que não foi nada e abraça de novo tirando o meu crachá do meio. Enquanto subo na moto pra ir embora, escrevo essa lição de paciência e carinho em 30 segundos. Se alguém quer ver ou ler isso? Também é uma questão de escolha. Uma coisa é certa: não sei se alguém quer ver, mas eu quero guardar isso.

Talvez eu precise voltar à minha agenda, para que apenas as pessoas que realmente sabem quem sou, possam ler. Mas seria um retrocesso. Posso também criar um espaço protegido onde eu possa salvar meus pensamentos na internet, e passar a senha só para quem realmente precise e queira. Mas deixar de pensar, de escrever, de registrar, isso jamais. Não estou mais na época dos meus pais.

Obrigado a todos que escolheram ler meus pensamentos. Às pessoas que visitaram 100 mil vezes este blog, saibam que continuarei como estava, sem dedicar muito tempo a ele. Mas de vez quando, dedicarei meus 15 ou 20 minutos para satisfazer os amigos que sempre vêm aqui saber o que estou falando. Abraços.