25 de janeiro de 2014

Senhor

Há muito tempo, quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, meu pai estava dando manutenção nas gaiolas lá de casa, com os passarinhos que ele criava, e me chamou para ajudá-lo.
- Luilton, venha cá!
- O que é?

Nesse momento, ele veio sério até mim e disse:
- Primeiro, quando eu lhe chamar, você apenas venha. E quando não ouvir direito, fale “senhor” e não “o que é”. Eu sou seu pai.
- Mas o Decarlos (meu amiguinho) sempre responde o pai dele com “o que é”.

Meu pai não era dos mais carinhosos, mas raramente entrava em pilha. Nesse dia foi diferente. Ele puxou minha orelha e disse:
- Segundo, eu disse que você tem que me responder “senhor” e não “o que é”. Não quero saber de pai nenhum, porque o seu pai sou eu.

Meu pai sempre teve essa preocupação em mostrar pra mim que tinha o controle da situação, e que ele era o chefe da casa. Não foi a toa que sempre era muito correto em tudo que fazia, tanto no trabalho, quanto em casa, com os pais, irmãos, amigos, com minha mãe e comigo. Sempre foi muito responsável, como ainda é até hoje. E exigia isso de mim. Ele queria que eu fosse um filho obediente, responsável e não puxasse briga com ninguém.


Era a contrapartida por exigir tamanho respeito. E apesar dos pesares, depois de todos os carões, eu percebia que ele estava sendo justo com suas convicções. Obviamente levava um tempo até eu perceber isso, quando eu pensava em fugir de casa, procurar outra família, entrar pro circo e ir embora, etc., mas no final eu sempre entendia, porque ele tinha suas qualidades.

Além disso, a imagem de um pai superior, a quem não se deve contrariar quanto às expectativas para ser uma boa pessoa, foi de extrema importância na minha formação quando criança. Eu realmente não tinha nenhuma vontade de decepcionar o meu pai, em nada, e fazia o impossível para lhe arrancar um sorriso, por menor que fosse. Ele merecia sorrir por tudo que fazia por mim, e eu também queria merecer esse sorriso. E olha que oportunidades para decepcioná-lo não me faltaram. Mas, eu me lembrava das possíveis conseqüências e pensava melhor.

Não me canso de agradecer ao meu pai por cada momento como esse. Respondê-lo com respeito, chamando-o de “senhor”, era o mínimo que eu poderia fazer para demonstrar meu carinho e admiração por ele, encorajando a continuar sendo o pai incrível que ele é.


- Liana, vem cá, filha.
- O que é?
- Não responda assim pro papai. Responda “senhor”, porque eu sou seu pai, tá?

A mais velha já aprendeu.