29 de maio de 2011

Testemunha de Jeová

Tenho uma aversão terrível a esta religião. Mas calma... ter aversão não significa não ter respeito. Aliás, tenho amigos e colegas de trabalho que fazem parte e os respeito como quaisquer outras pessoas, já que aprendi com minha vida que ninguém vale mais ou significa mais do que outra pessoa e que todos somos iguais.

Mas o que aconteceu pra que eu sentisse isso? Um fato tão lamentável quanto inesquecível.

Eu sempre recebia muito bem aos TJ na minha casa. E olha que até naquele domingo mais preguiçoso, eu me levantava, interrompia café da manhã e até parava transa pra atendê-los. E, acredite, até a revistinha eu comprava nem que fosse pra minhas filhas rasgarem. Até que um belo dia eu cheguei do trabalho cedo e fui na quadra de esportes vizinha à minha casa, pedir a quem estivesse lá que deixasse eu jogar junto (e perder algumas calorias, etc.).

Então chego lá, já calçado, com toda humildade e respeito:

- Boa noite, tudo bem? Será que eu posso brincar aqui com vocês?

Eles se olham desconfiados e pedem pra eu falar com um senhor barrigudo que estava do outro lado da quadra. Como um cachorrinho, eu vou lá:

- Olá, como vai? Será que eu poderia jogar com vocês?

- Hum... é que aqui só tem testemunhas de Jeová.

- Ok, será que eu posso brincar com vocês hoje?

- Nós somos testemunhas de Jeová, você não entendeu?

- Não...

- A gente veio só brincar, não somos competitivos, não falamos palavrões no jogo.

- Eu tenho exatamente essas características.

- Não dá, a gente nem jogar sabe...

Então percebi que eles não queriam se misturar comigo. Saí p&%$ de raiva e prometi que ia descontar isso em todos os TJ que ousassem ir na minha casa.

Daí, sempre que algum vem na minha casa em domingos pela manhã (como hoje), eu conto pra eles essa mesma historinha e faço um sermão dizendo que todos devem se respeitar apesar de religião. Acredite se quiser: nenhum pediu desculpas e alguns ainda tentam se justificar. Teve um que soltou a pérola "no mundo de hoje, ninguém sabe se a pessoa pode andar armada né".

Obviamente, não generalizei todos os TJ naquela pessoa ridícula que foi o barrigudo. Como disse antes, até tenho amigos TJ que gosto muito. Mas isso eu não vou mais esquecer, nem que eles fizessem um amistoso internacional onde eu fosse a principal estrela do dia.

19 de maio de 2011

Ratinho

Estava zapeando entre os canais da TV no intervalo da novela e me deparei com o Ratinho elogiando o Alexandre Frota pela entrevista que ele havia dado à Gabi Gabriela na noite anterior. Repare no que ele falou:

- Parabéns por sua entrevista ontem, Frota. Foi muito boa.

- Obrigado, Ratinho.

- Se a pessoa é sincera, a entrevista é boa. Se não tem nhenhenhém, a entrevista fica perfeita. Pra quem é sincero, tudo fica mais fácil.

Aí ele continuou:

- As pessoas dizem "Ratinho, como você é tão bom negociador..." Bom negociador, nada! Eu apenas sou sincero, entendo do que falo, falo a verdade e não quero enganar ninguém.

Aí ele finaliza:

- Às vezes o cara tenta mentir e se lasca... Porque mentir dá muito mais trabalho. O cara mente, daí depois ele tem que mentir de novo, e de novo, e acaba se lascando.

O Ratinho (pois é, o Ratinho), numa fala de menos de 2 minutos, resumiu uma apostila inteira sobre negociação e ética.

7 de maio de 2011

Cinto no Armador

Voltava da escola no auge da minha 7ª série, com energia suficiente para chegar em casa, jogar o fardamento escolar no chão e ir para o campinho jogar bola.

Dribles, passes, gols... E, de repente, naquele dia o jogo foi interrompido pelo meu pai. Ele invadiu o campinho andando lentamente e concentrado no meu olhar. Ao aproximar-se, pegou na minha orelha com força e foi me puxando por ela até chegar em casa.

Todos os meus amigos ficaram paralisados e em silêncio observando aquela cena. A orelha não doía, quando eu pensava na vergonha que estava passando naquele momento.

Até que, em casa, meu pai me leva até o quarto e aponta para a roupa no chão:

- O que é isso? Perguntou meio ofegante.

- Eu junto, pai. Respondi.

- Eu quero saber por que é tão difícil colocar a roupa no cabide. Retrucou.

Eu já comecei a chorar, porque meu pai demorava meses para perder a paciência comigo, mas quando perdia... a pisa era certa e doía muito mais do que todas que minha mãe me dava, que eram diárias.

Percebi que nos seus olhos, não estava apenas a raiva por eu ter deixado uma roupa no chão. Neles estavam a soma de todas as decepções que ele já havia tido comigo (eu não era fácil), principalmente quando ele esperava de mim o melhor em todos os aspectos.

Ele começou a tirar o cinto da cintura e meu desespero só aumentava. Eis que em um momento divino, ele pega o cinto e o pendura em um armador de rede.

Chorando e ainda sem entender, tento olhar em seus olhos e perceber o que estava acontecendo. Será que ele ia usar as mãos mesmo? Será que ele ia pegar algo que me fizesse sentir mais dor? Aí, ele senta na cama, olha pra mim com um olhar sério e concentrado para dizer as palavras mais incríveis que tinha ouvido na minha vida, vindas da boca do meu pai:

- Escute aqui. Eu não gosto de lhe bater. Todas as vezes que lhe bati foi porque você mereceu, mas eu não queria lhe bater. Não queria que você fizesse por onde merecer. Mas você não aprende...

Ele continuou:

- Tá vendo aquele cinto ali? Eu não quero mais tirá-lo dali, você está me entendendo?

- Entendi, pai.

Ele saiu do quarto, eu juntei a roupa e a coloquei no cabide. Olhei para o cinto e jurei que ele ficaria pendurado ali por muito tempo. E ficou. Meu pai nunca mais me bateu depois daquele dia. A possibilidade de decepcionar o meu pai me deixava mais cauteloso do que qualquer ameaça.

Percebi que cada pisa que levei, teve sua interferência na minha vida e que todas foram merecidas. E já era hora de parar de merecer. Pai, você não tem ideia do quanto lhe agradeço a Deus por ter lhe escolhido pra me mostrar isso, e ter escolhido a época certa para que tudo isso acontecesse. Obrigado.