17 de setembro de 2009
A culpa é da mulher
5 de setembro de 2009
Leopardo
Música nos remete a lembranças e fatos que aconteceram enquanto a ouvíamos. Se algum fato marcante lhe ocorreu e naquele exato momento tocava uma música, nem que se passem 30 anos, você lembrará o fato assim que a ouvi-la novamente.
Assim também é o perfume. O cheiro, assim como a música, marca acontecimentos ou períodos no tempo. E no meu caso mais ainda, pois nunca usei o mesmo perfume por 3 vezes seguidas. Sempre mudava. Então, quando sinto o cheiro de um dos meus perfumes do passado, sempre lembro a época em que o usava. Impossível sentir o cheiro do número 65 do Contém 1g e não lembrar o dia em que perdi minha mãe ou ainda sentir o fortíssimo Free do Boticário e não recordar da primeira namorada.
Ontem senti um cheiro, que me fez lembrar algo que definitivamente ficou marcado. Trata-se da fragrância de uma colônia chamada Leopardo, que foi o primeiro perfume não tão barato que comprei.
Leopardo foi indicação de um colega de estágio, que contou que usava e as meninas gostavam muito por ser doce e agradável. Não contei pipoca e no caminho de casa, passei na loja onde tinha todos os perfumes que se possa imaginar. A Loja do Careca. E o Careca foi outro que disse que o perfume era uma maravilha, que era muito comprado e que as mulheres adoravam. Não pedi nem que tirasse da caixa e já levei.
À noite, antes de ir para o colégio, abusei. Passei Leopardo até onde você, que só pensa maldade, está pensando. E a primeira reação foi memorável:
- Que diabo de cheiro é esse, menino? Perguntou uma colega.
Aquilo me matou, mas eu ainda tinha esperança de que só ela não havia gostado.
- Ave, que perfume podre! Vai trocar isso! Disse outra.
Aí foi o fim. Admito ser chamado de feio, de bocó, de burro, de imbecil, de idiota, mas de fedorento não.
- Valha, como tu tá fedorento! Disse a terceira e última que me viu naquela noite.
Antes de a aula começar, voltei pra casa correndo, pra tentar chegar a tempo. Tomei um banho, tirei aquela coisa de mim, e nunca mais usei Leopardo... no corpo.
Eu jogava futebol, era goleiro titular do colégio e jogava praticamente todos os dias. Dias antes de comprar Leopardo, eu havia comprado um par de luvas especiais, com boa fixação, lindo design e com uma textura perfeita pra agarrar melhor a bola. Eu não costumava lavá-las e, por concentrar um volume considerável de suor, ficavam com cheirinho ruim. Então tive uma idéia genial: passar Leopardo nelas.
E derramei o vidro inteiro nas luvas. Não era possível que o cheiro de Leopardo fosse pior do que o do suor.
Mas era.
E aquele cheiro me acompanhou por toda minha adolescência durante os jogos. E o pior: impregnou de um jeito que por mais que eu lavasse as luvas, o cheiro não saía. E não saiu até hoje.
Ontem estava arrumando uns trecos aqui em casa e achei as coitadas e quando peguei que senti, lembrei de tudo. Leopardo, mais marcante impossível.