- Amor, minha menstruação não veio.
- Não fala isso, pelo amor de Deus!
E essa é aquela fase da vida de um homem, em que uma
ligação com um “amor, veio” traz a maior sensação de alívio que se pode ter. Na
adolescência, o ímpeto natural de se entregar à paixão e ao momento, não vem junto com o discernimento necessário pra comprar uma camisinha. Às vezes, não dá
tempo e a gente acha que vale a pena arriscar só aquela vez.
Aí você fica contando com a sorte. A preocupação começa
imediatamente após a relação sexual. Os dias seguintes são um grande tormento,
em que se tenta esquecer que você pode ser pai. Por um momento, até fazer planos, como vai ser o nome, ensaiar o que vou dizer aos meus pais, e por aí vai.
- Amor, veio.
E tudo se transforma! Você quer gastar toda a migalha que
tem na carteira e comemorar. Daí promete que nunca mais fará sexo sem
camisinha. Promessa essa, que é quebrada logo que a menstruação da namoradinha
acaba.
Então decidem que ela deve tomar um anticoncepcional. Tal
pílula engorda, a injeção de hormônio faz nascer bigode e a gente passa a
conviver com esses problemas, até que, após vários sustos filhos que não tivemos, a
mulher decide que é melhor engordar um pouquinho do que engravidar fora de hora.
- Acho que chegou a hora de termos nossa filha.
Suspende a pílula e haja amor! Então o “amor, veio” passa
a ser uma decepção atrás da outra. Comigo durou cerca de 5 anos. Já dava pra
achar que havia algum problema e que deveriamos fazer um tratamento. Quando de
repente, eu recebo uma camisa com a foto da ultrassonografia da minha primeira bebê.
Depois da primeira, a promessa de que não teria outro
filho tão cedo. Promessa quebrada logo após o término da primeira menstruação. A segunda filha viria alguns meses depois.
Alguma medida drástica precisava ser tomada! Parar de fazer
sexo, usar camisinha sempre, usar as pílulas que engordam... nada parecia ser uma boa
ideia. Então o médico sugeriu o DIU.
A alegria está de volta à nossa casa! Finalmente o sexo
sem medo, sem barreira, sem culpa e a vida conjugal toma um novo rumo. Três meses depois, do hospital, após um
exame ginecológico, ela liga dizendo “amor, o DIU está completamente fora do
lugar”.
Por 5 segundos eu me acho “o cara”, afinal deslocar um
DIU não deve ser pra qualquer um. Logo depois, vem à tona aquela preocupação da
adolescência: “será que ela está grávida?” Novos planos, quantas latas de
leite, mais fraldas, e o futuro, a escola, e como serão as três nas cadeirinhas
do carro...
Até que ela liga logo depois “amor, o médico disse que não estou
grávida”.
Foi mais um dos milhares de filhos que tive, que apesar
não terem se materializado, tiveram um pouquinho da minha atenção como pai.