Há cerca de 12 anos, eu jogava em um time de bairro e todos
os finais de semana tínhamos jogo em alguma comunidade. Éramos de 20 a 25 jogadores,
e após cada jogo, era sagrada aquela cervejinha e, claro, uma bela de
uma cachaça.
No entanto, eu devo ter nascido com uma doença rara que ataca menos
de 1% da população, especialmente a masculina, chamada "Cervejite": uma mutação na língua que a torna intolerante a cerveja e a cachaça. E olha que não foi por falta de incentivo ou oportunidades. O problema
é o gosto mesmo.
Eu não ficava tão deslocado da turma porque pedia meu
refrigerante e, felizmente não precisava de álcool pra falar e fazer bobagem,
como ainda não preciso. Eu nunca entendi por que isso acontece comigo, mas
confesso que nunca me fez muita falta.
Exceto numa festa da empresa, para a qual pediram R$ 80 (muito
dinheiro na época) de cada para os gastos, incluindo a cerveja. Que droga, pensei, por
dar tanto dinheiro e beber apenas refrigerante. Eu tinha que aprender a gostar
de cerveja. Mexeu com meu dinheiro, mexeu com coisa séria. Aí pedi alguns conselhos a amigos cervejeiros, e eles me
deram dicas que resolvi seguir. Disseram que no começo é difícil, mas se eu
seguisse os passos tudo direitinho, daria certo.
Primeiro eu tinha que comprar uma boa cerveja e deixá-la
muito gelada. Recomendaram Bohemia, comprei e deixei no freezer por 1 semana.
Depois, eu tinha que estar morrendo de sede. Então passei um
sábado sem beber água, e a tarde fui jogar minha bola em campo de terra. Foi
difícil ver as senhoras vendendo picolés e não comprar nenhum, mas resisti. Voltando
pra casa de moto, tirei o capacete e vim de boca aberta pra secar qualquer resquício
de saliva que ainda tivesse.
Cheguei em casa, abri a geladeira e vi aquela garrafa,
toda encoberta de branco, parecia trincada de tão gelada. Saía fumacinha. Abri e coloquei num
copo. Ao derramar, parecia grossa, o barulhinho era agradável.
Então coloquei na boca, tomei um gole. Tomei outro gole
só pra comprovar.
Aquilo era horrível. Abri uma Sukita de 2 litros e tomei quase
metade. O resto da cerveja, joguei na pia, que treco amargo do caramba. Nunca
mais.