23 de março de 2009

O Primeiro Artista

Na minha infância, as noites de sexta-feira tinham sempre um brilho diferente. Era dia de cantoria na quitanda do vizinho.

O cenário era sempre o mesmo: uma lâmpada amarela pendurada na frente da casa, dois tamboretes, uma viola, um pandeiro e um chapéu no chão. Bancos de madeira em forma de V, acomodavam a plateia que chegava aos poucos e a partir das 20h todos ficavam apenas aguardando o nosso grande ídolo.

Era o momento de rever os vizinhos, a comunidade. A roupa nova que fulano comprou, o chapéu novo, o perfume forte, o sorriso e a petulância de cicranos...

Todos queriam ver ele. O maior cantor de cantoria que conhecíamos. O que encantava todas as senhoras, tinha o respeito dos senhores e admirava aos olhos das crianças como eu.

Manoel Gonçalves.

O parceiro dele (o do pandeiro) variava, mas ele, Manoel Gonçalves, sempre estava lá com sua viola fazendo rimas e rimas, cantando a nossa vida e no nosso ritmo. Não durava 10 minutos, o chapéu enchia de dinheiro.

Após o show, eu e meus amigos saíamos cantarolando os versos, certos de que queríamos ser cantores de cantoria quando crescêssemos.


"Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora...
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora.
Quer ir mais eu, vamos! Quer ir mais eu, vumbora!
Quer ir mais eu, vamos! Quer ir mais eu, vumbora!"

Ô saudade...

Um comentário:

  1. Quem na infancia não teve vontade de um violão e uma boa voz né?
    Gostei deste post, foi como uma viagem a infancia.
    Abração

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