3 de agosto de 2010

Atirei o Pau no Gato

Atirei o pau no gato-to
Mas o gato-to
Não morreu-eu-eu
Dona Chica-ca
Admirou-se-se
Do berro, do berro, do berro que o gato deu:
Miau!

Se você nasceu até 1985 e conseguiu ler essa poesia infantil cantarolando uma das músicas mais conhecidas da minha infância, fico feliz por você. Eu tenho saudade dessa época. Saudade do tempo em que “Atirei o pau no gato” era apenas uma música inocente e divertida, que embalava rodas de crianças sem nenhuma maldade. Conversando com a diretora da escola da minha filha, ela me informou que essa música foi abolida de todas as escolas que ela conhece, porque incentiva maus tratos aos animais.

Até criaram outra versão:

Não atire o pau no gato-to
Porque isso-so
Não se faz-faz-faz
O bichinho-o
É nosso amigo-go
Não devemos maltratar os animais
Miau!

Esse é o tipo de caso que reforça o ditado “a maldade está nos olhos de quem vê” e onde o completo com um “e não na boca de quem canta”. Que eu me lembre, jamais senti vontade de atirar um pau num gato por causa dessa música. Na verdade, só vim entender que “do berrô, do berrô...” significava o berro do gato, depois de muito tempo.

A letra da nova versão é perfeita, correta e do bem. Mas... veja que ironia: garanto que quem compôs, não se lembra que para uma criança e até pra nós mesmos, o “não faça!” significa “faça escondido” e o “faça!” significa “vou ver se vale a pena antes de fazer”.

Antigamente não existiam traumas infantis, apologias ao mal com músicas de roda e de ninar, preconceito em qualquer frase, excesso de cuidado... Atualmente tudo é traumático, tudo é apologia ao mal, tudo induz ao erro, tudo é errado, todas as músicas influenciam mal, palmada é crime... Que tempo foi melhor? Algum adulto traumatizado condena os seus pais porque disseram que o homem do saco viria buscar se ele não tomasse banho? Será que a minha infância foi tão complicada e eu nem percebi?

Vou ensinar a minha filha a cantar “Atirei o pau no gato” da maneira que aprendi, e vou ensinar a não maltratar os animais, assim como também aprendi.

12 comentários:

  1. Morro de saudades das brincadeiras de infância, pegador de esconder, cabra cega,pique cola etc...
    Também tenho uma filha e me preocupo muito com o que é transmitido para ela na escolinha que ela frequenta. Os valores mudaram as brincadeiras são outras, mas a educação tem que continuar baseada em moral e ética. Aliás tenho um post sobre isso no meu blog, dá uma olhada lá depois HERANÇA !!!
    Abraço !!! Fabrizzio.

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  2. Olá... há alguns anos fiz um curso de brincadeiras infantis (trabalhei por 8 anos como professora de educação infantil - crianças de 0 a 5 anos). Surgiu a discussão em torno dessas músicas que tanto nos fizeram felizes em nossa infância, alguém disse que causariam trauma nas crianças, etc. Entre as músicas discutidas estão "atirei o pau no gato", "boi da cara preta" e uma que adorava brincar com meus amiguinhos:

    "Tango, tango, tango morena
    É de carrapicho
    Vou jogar 'fulano' morena
    Na lata do lixo."

    Quando todos estavam "na lata do lixo", quem comandava a brincadeira cantava a mesma música, porém trocando o "jogar 'fulano', por "tirar 'fulano' da lata do lixo". Traumático? Não pra mim ou pra meus amiguinhos, pois sabíamos que era apenas uma brincadeira.

    O professor do curso que me referi no início deu uma ótima explicação sobre o porque manter essas brincadeiras no dia-a-dia das crianças de hoje: A maioria dos atos de violência entre as crianças acontecem porque elas não foram capazes de externar essa vontade através de palavras. Assim, quando a criança fala que atirou o pau no gato ou jogou "fulano" na lata do lixo ela o faz na brincadeira não precisando do ato em si... o simples fato de dizer ou cantar já lhe é suficiente para que ela não queira fazê-lo de fato...
    A música do "boi da cara preta" e outras tantas, servem para as crianças enfrentarem seus medos, não para amedrontá-las... :)
    Essa ideia vem confirmar o que você disse em seu post. Ótima tarde!

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  3. É, gato, concordo com tudo que escreveu. E foi bem esclarecedor o comentário acima!

    Sou dos anos 90, daí conheço as duas versões.

    E, sinceramente, vimos a chapeuzinho sendo devorada depois da vovó, vimos a mãe do Bambi morrendo, a Branca de Neve comendo veneno e todas essas coisas...

    Me dizem constantemente que "criança sem trauma não vive". Eu não concordo com essa frase, mas, assim como é fato que o "não faça" soa "faça escondido" pros ouvidos infantis, sei que tratar certos assuntos sem grandes pompas (como a morte e a violência) não tem nada de traumático, e sim, esclarecedor, sincero e maduro; a criança se sente inserida e fica informada.

    Muito bom mesmo o comentário acima!
    Abraços, parabéns pelo texto.

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  4. É Lú... Depois de ler seu post e os comentários dos colegas, pude reacender a postura de que "a maldade está (realmente) nos olhos de quem vê".
    Sinto muita saudade do tempo do "atirei o pau no gato...", do "Vou jogar 'fulano'na lata do lixo" e do "boi da cara preta"... viajei!!! Ô tempo 'bão'!

    Abraços!

    Maíra Farias
    Maceió-AL

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  5. Que engraçado, antigamente isso, e outras coisas que hoje em dia são proibidas, não eram proibidas e vejam, cá estamos, não roubamos, nem matamos, e somos bem mais inteligentes que essa nova geração que está surgindo, por que não proíbem a pulseira do sexo? por que não incentivam as crianças a não namorarem tão cedo? por que não preservam essa inocência que nós tivemos e somos bem mais conscientes e cidadãos que eles? Tem algo de muito errado com esse mundo, isso se chama: sistema/illuminati/fimdostempos! Analise e comprove vc mesmo!

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  6. Muito bom [!]

    Essa música tb esteve presente em parte do Stand Up de Rafael Cortez, do CQC, em Osasco. Ele falou praticamente o msm que vc.

    Concordo com os dois.

    Vi que gosta de ler blogs, se puder passe no meu.

    O último post é meio malicioso, mas o restante é mais construtivo.

    Vou te seguir no Twitter. Gostei das blogagens, gostei dos tweets. Se quiser seguir: @loucos_virtude

    Keep blogging.

    Fik com Deus e akele abraço
    +Sucesso

    TJ do loucosporvirtude

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  7. Nossa, "atirei o pau no gato" não tem nada de errado! Eu sempre cantei, aprendi a versão nova, tá, mas o que tem de errado com a 1ª?
    Não imagino uma criança crescendo sem essa musiquinha...
    Enfim, as crianças hoje nem tão querendo saber de música assim, minha priminha de 5 anos tem um DVD da Lady Gaga. A sobrinha da minha amiga, tem 4 anos, e obrigou o pai a comprar um DVD do Justin Bieber.
    A infância não é mais como antes!

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  8. Luilton e todos os comentaristas acima, obrigado, obrigado mesmo por vocês não terem atirado o pau em mim, na minha mãe, no meu pai, nos meus irmãos, na minha vó, no meu vô, na minha bisa, no meu bisa... Ai, chega né?

    Prometo não fazer uma sinfonia de berrôs com meus namorados nos telhados das casas de vocês, mas se eu sentir um vuuuuuuuu de um pau voando, vou considerar que nem uma nem outra versão do clássico infantil adiantaram alguma coisa.

    Meow!

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  9. Concordo com vc. Também cresci ouvindo isso e nunca senti nenhum desejo de maltratar bicho nenhum. O mundo está mudando, e o pior: protegem a todos, menos a nós. Que somos obrigados a viver a mercê de toda maldade crescente em nossos dias.

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  10. Gostei demais do texto. Li ha pouco uma matéria onde o músico e psicologo Hamilton catette tem a mesma linha de pensamento (publicado no Globo em 2014). Se há algo errado são as músicas executadas nas festas infantis atuais.

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  11. Uma coisa que talvez passe despercebida nessa canção é o fato de conter todas as notas da escala, recurso muito útil na iniciação musical dos pequenos e dos marmanjos também.

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