A última vez que tinha derramado uma lágrima, foi no
nascimento da minha filha há 2 anos e meio, que, cá pra nós, foi mais um choro
de alívio do que de emoção. Antes disso, não me lembro ao certo quando tinha
sido a última vez. Não que eu seja uma pessoa fria ou insensível. Muito pelo
contrário. No entanto, chorar mesmo, só quando a emoção é tão extrema, a ponto
de sair de mim, da minha personalidade razoavelmente forte. O fenômeno se
tornou ainda mais raro, por causa do motivo do choro.
Há uma semana, comecei a ler “O Caçador de Pipas”. De
cara, gostei do estilo do autor, da forma com que usava as palavras, e até como
ele rodeava e rodeava para, enfim, chegar ao ponto. Até anteontem à tarde,
havia lido até a página 116. E da 117 a 246, não consegui desgrudar o olho
daquele livro. Dormi às 4 da madrugada, acordei às 7 da manhã, voltei a ler,
dormi às 11, acordei às 12, comi algo de olho no livro e tornei a ler, até
terminar ontem às 10 da manhã.
Em alguns momentos da leitura, fiquei muito comovido. A
injustiça com os bons, acaba comigo. Mas nada que me fizesse ao menos umedecer
os olhos. Eu tinha na minha mente os rostos e as expressões de cada personagem,
e me veio a ideia de ver o filme. Procurei pela internet e não o achei. Então
fui procurar no Youtube, e eis que acho um clipe de 7 minutos, com algumas
cenas do filme.
Ao ver o rosto e olhar maravilhoso de Hassan, meus olhos
se encheram. Os momentos que vi no livro, estavam aparecendo naquele vídeo.
Hassan comemorando com Amir, indo embora... fiquei muito tocado, e... desabei.
Chorei, não conseguia segurar, apesar de tentar. Minha esposa entrou no quarto
e, completamente desacostumada com aquela cena, gritou “o que foi que
aconteceu???” e veio ao meu encontro, olhando para a tela do computador. Tentei
rir pra despreocupá-la, mas não consegui e acabei me abrindo com ela. “Estou
chorando por causa de uma história.” Ela não entendeu e, respirando fundo,
consegui explicar melhor.
Gostaria de recomendar o livro àqueles que gosto. E que,
se possível, façam da mesma forma: primeiro o livro, depois o filme. Aí vocês
me contam como foi.