14 de maio de 2013

Minha égua

Aos 8 anos, eu tinha três funções muito importantes: acordar às 5 da manhã, levar milho para as cabras e dar banho na égua de raça do meu pai. Bolsas de palha em cada lado do guidão da Monark infantil com pneus azuis e meu fiel escudeiro, o “Leão” meu cachorrinho.

5km depois, encostava a bicicleta no tronco de um enorme pé de figo e levava o milho para os cochos das cabras, que não eram muitas, mas faziam muito barulho quando eu chegava. Eu era o popstar daquelas cabras.

Enquanto elas se alimentavam, eu ia buscar a égua no curral para levá-la a um rio próximo, para que ela pudesse tomar aquele banho gostoso. Pegava uma palha de coqueiro e deixava só o cipó do meio para usar como “acelerador” da égua. No começo, um leve açoite e a égua começava a andar. Um açoite um pouco mais forte e ela corria. E assim foi por alguns dias.


Com o tempo, o Leão, meu cachorro, aprendeu a encostar a porteira quando saíamos para o rio, e a abri-la quando chegávamos. Mas o mais interessante foi o que a minha égua aprendeu. Depois de alguns dias, o açoite passou a ser completamente desnecessário. Bastava levantar o cipó que ela já disparava. Acho que ela via pela sombra quando eu levantava o cipó. E depois de um tempo, bastava falar “vamo”, que tudo se resolvia.

Ao descobrir isso, fiquei maravilhado. Não só pela capacidade da égua em desenvolver esse “raciocínio” para não levar um açoite, mas principalmente porque eu odiava bater nela. Minha égua me deu uma bela lição: se eu sei o que tenho que fazer, pra que esperar alguém me dar um açoite para me fazer começar?

3 comentários:

Seu comentário me fará bem. :)