Boa parte da minha infância foi no escuro. Ainda lembro o dia em que foram colocar os postes para a rede de energia na minha rua. Com a chegada da eletricidade, a vida mudou completamente e surgiram alguns novos hábitos.
Televisão... nem vou me alongar na revolução que essa máquina gerou quando a vimos funcionar. Confesso que, por várias vezes, coloquei minha mão por trás imaginando vê-la na tela, ou ainda, procurei através dos furos de ventilação, a fim de ver se havia alguém dentro dela, até assistir no Castelo Rá-ti-bum como ela funcionava de verdade.
Mas o que quero contar aqui foi o que aconteceu quando meu pai comprou o primeiro vídeo-cassete do bairro. Nos finais de semana, minha sala estava sempre lotada de amigos para vermos as fitas que ele alugava numa cidade vizinha a 15 km.
Os comentários do tipo:
“Nossa, que fita grande.” (Comparávamos com a fita cassete de músicas)
“Caramba, não passa propaganda!”
“A gente pode voltar e ver de novo!”
“Aperta o ‘pause’ bem na hora da voadora!”
Sim, a hora da voadora era sempre a mais esperada, porque não tinha graça nenhuma ter um vídeo-cassete e não assistir aos filmes do fantástico Bruce Lee. Esse era, definitivamente, o nosso maior ídolo da telinha naquele tempo. E não víamos só uma vez, repetíamos até dar sono. Todas as crianças queriam ser o Bruce Lee, ter sua agilidade, inteligência, calma, paciência e inclusive aquele grito todo especial.