Este blog completou 100 mil visitas. Eu sempre pensei em
como seria interessante, se meus pais tivessem um blog desde a adolescência
deles, para que hoje eu pudesse ler seus pensamentos daquela época. Como isso
não foi possível, resolvi escrever esse blog para minhas filhas, e dar a elas
essa chance que eu não tive.
Mas praticamente abandonei o blog após o surgimento do
Twitter. Meus pensamentos podem ser facilmente expressados em 140 caracteres. E
também há um fator muito importante a ser considerado: tempo.
Eu não preciso ter tempo sobrando para ter um Twitter. Ninguém
para de pensar, e em 30 segundos é possível passar esse pensamento pelo celular, para todas as pessoas que lhe seguirem. É o tempo de passar o fio
dental, de arrumar a postura na cadeira, de pegar um ar, de dar uma
espreguiçada, de beber água e, para muitas pessoas, até mesmo de tomar um bom
banho.
Já para manter um blog, a dedicação de tempo precisa ser
maior. Por exemplo, desde que iniciei esse post, já se foram uns 5 ou 6 minutos.
Provavelmente até terminá-lo, levarei uns 10 ou 15, talvez até mais. Como eu
preciso dedicar meu tempo a outras coisas que julgo mais importantes, mas não
queria perder a oportunidade que tenho de escrever meus pensamentos para minhas
filhas, todo mundo e eu ler, acabei preferindo o Twitter, e algum tempo depois,
o Facebook e sua linha do tempo.
Às vezes eu pergunto pras pessoas se têm Twitter ou
Facebook, e elas respondem “não tenho tempo”. Essa é uma expressão que odeio.
Todos têm tempo, as mesmas 24 horas por dia. A diferença é em que cada pessoa
escolhe dedicar esse tempo. A pessoa que não está em nenhuma rede social, não
pode usar a “falta de tempo” como desculpa. Essa pessoa apenas não quer deixar
de dar uma espreguiçada e perder os maravilhosos 30 segundos para postar uma
frase, ou simplesmente não vê vantagem nenhuma nisso. É uma questão de escolha
que, inclusive, respeito muito.
Antes do Twitter eu já dedicava alguns segundos da minha vida
escrevendo na minha agenda com uma caneta – veja que arcaico –, aquilo que eu
pensava que devia ser guardado, registrado. Se fosse capaz de causar uma mínima
reflexão, seja engraçada ou dramática, eu estava anotando. A diferença é que
hoje, eu posso enviar isso pra milhares de pessoas, usando exatamente o mesmo
tempo, ou mais rápido, até.
A pessoa diz “você passa muito tempo no Twitter ou Facebook,
vá se dedicar à sua família, seu trabalho, brincar com suas filhas” e eu já
compreendo imediatamente a limitação da pessoa em entender que o tempo dedicado
a isso, não é o mesmo para todas as pessoas. Posso não ser o melhor pai e
esposo do mundo, mas dedico o máximo de tempo à minha família. Posso não ser o
profissional mais incrível do universo, mas nunca deixei nada por fazer,
clientes esperando, ou coisas do tipo. O tempo que eu dedico ao Twitter e ao
Facebook é tão pouco, que se somarem todas as frases que posto em um dia,
talvez dê menos tempo que a duração da escovação dos meus dentes.
E nem por isso, deixei de escrever. Nem deixarei. Minha
filha se lambuza inteira com um pedaço de bolo, por exemplo, e enquanto ela
ainda está montada em mim como se fosse seu cavalinho, posso tirar e enviar uma
foto da minha filha lambuzada de chocolate e nas minhas costas em 30 segundos.
Estou atendendo uma cliente idosa, maravilhosa, e quando finalizo o atendimento
dou um abraço – como sempre – e meu crachá machuca o seu peito. Eu peço
desculpas, ela diz que não foi nada e abraça de novo tirando o meu crachá do
meio. Enquanto subo na moto pra ir embora, escrevo essa lição de paciência e
carinho em 30 segundos. Se alguém quer ver ou ler isso? Também é uma questão de
escolha. Uma coisa é certa: não sei se alguém quer ver, mas eu quero guardar
isso.
Talvez eu precise voltar à minha agenda, para que apenas as
pessoas que realmente sabem quem sou, possam ler. Mas seria um retrocesso.
Posso também criar um espaço protegido onde eu possa salvar meus pensamentos na
internet, e passar a senha só para quem realmente precise e queira. Mas deixar
de pensar, de escrever, de registrar, isso jamais. Não estou mais na época dos
meus pais.
Obrigado a todos que escolheram ler meus pensamentos. Às
pessoas que visitaram 100 mil vezes este blog, saibam que continuarei como
estava, sem dedicar muito tempo a ele. Mas de vez quando, dedicarei meus 15 ou
20 minutos para satisfazer os amigos que sempre vêm aqui saber o que estou
falando. Abraços.